sexta-feira, janeiro 12, 2007

demónios

A sala vazia e escura, com duas entradas que permitiam circular no espaço, prostrada em cima de uma murada de pedra, jazia um corpo esbelto e inerte. Pequenas chamas, que queimavam pavios de pequenas velas, davam vida às curvas de sensualidade naquele corpo coberto por uma fina e transparente veste. Estendida sobre a pedra fria, protegia o peito com um dos braços, dificultando a visão sobre o seu seio, aproximava-se e sentia o cheiro quente do sangue, cada vez mais intenso e toda aquela volúpia apoderava-se na escuridão daquela sala. A intensidade era cada vez maior, e sentindo um ar quente a contrariar o frio cortante, a mão gelada deslizou e subiu-lhe por entre as pernas num toque suave e delicado. A tortura de querer lamber aquele sangue, impuro, de um cheiro deliciosamente irresístivel, que os dedos absorviam, perfeitamente aconchegados naquela gruta, opunha-se contra a natureza de ter de alimentar de sangue puro. A tentação que qualquer vampiro sentiria, fez debruçar sobre o peito desnudado sentindo o pulsar do coração, enquanto a mão permanecia por entre as pernas em ligeiros movimentos, arrancando-lhe suspiros de prazer silencioso.
A vontade de acaríciar e senti-la fisicamente, resumia-se na contemplação à luz da sua beleza e à vontade em querer-se alimentar do sangue, sem lhe fazer mal nenhum. Num momento de fraqueza, num raio de trovão, como que despertada para a vida, num assomo de raiva e prazer, arqueou o seu corpo em direcção ao tecto descobrindo aqueles maravilhosos seios, numa metamorfose apocalíptica soltou-se do seu estado latente e emergiram aqueles dentes que se cravariam no pescoço antes debruçado sobre si. Num horrivel grito de desespero que ecoava por aqueles paredes surdas, fazia com que a vida daquela mulher fosse reactivada pelo sangue que pretendia ser alimentado pelo sangue dela própria. Num instante, debruçada sobre quem apreciava a sua beleza e sentia o seu prazer, a sua fome fez sugar o sangue completamente daquele ser, ficando um corpo mirrado e desfalecido, caído naquela sala.
A mulher voltou a tombar, caindo sobre o corpo do seu criador.