sábado, junho 10, 2006

Foxy Viagens - Itália (VII Nápoles)

... continuação de Itália VI

Depois de um dia estafante, por ter completamente perdido o sentido de orientação e também por alguma casmurrice minha, acabei por passar uma noite calma e divertida em Siena. Jantei na Piazza Del Campo e fiquei por ali a ver as paragens.
Dia seguinte, segui directo para a estação de combóios, onde fiquei a pensar para onde ir. Tinha as opções de seguir para Norte até Génova ou de seguir para Sul e ir parar a Nápoles, aonde o meu "amigo" de viagem, Luis Vidigal me tinha aconselhado a visitar. O problema é que era quinta-feira (estavamos na semana Pascal), e fazia intenções de estar sexta-feira em Roma para ver a Via Sacra, portanto teria que fazer uma viagem o mais rápida possível para ter tempo para visitar as cidades, quaisquer que elas fossem. Este meu dilema se ía para Génova ou Nápoles, foi resolvido com o primeiro combóio rápido (qualquer coisa, muito superior a um alfa-pendular e inferior a um TGV) que tivesse destino uma dessas cidades. A felizarda acabou por ser Nápoles, mas tinha que fazer uma paragem em Chiusi (pronúncia-se Quiúsí - gostei do nome) e mudar de combóio. Até Chiusi correu tudo bem, mas ao trocar de combóio e depois de instalado, começo a perceber que montes de gente está a entrar no combóio. Gente com imensa tralha às costas e com a familia toda junta ... tipo "excursão de familia" com a casa às costas, que iam visitar os primos mais distantes lá da santa terrinha. Estava um caos. Putos a berraram, as mães a gritarem umas com as outras, os filhos a gritarem com os pais, os pais a gritarem com os filhos, etc ... ganda chinfrim. Acabei por sair do meu lugar confortável e dar de "BOA VONTADE" a uma senhora qualquer e bazei para um lugar situado ao pé da porta da carruagem que me parecia um lugar mais calmo. Acontece que nesse dia estava a haver uma greve de combóios e as pessoas que estavam a entrar no meu combóio eram de outro que tinha parado por causa da greve. Acabei por fazer a viagem toda sentado em cima da minha mochila e a ver as espectulares paisagens italianas apesar do incómodo.

A certa altura a linha de combóio serpenteia com o litoral italiano e as montanhas. É uma sensação linda, algo vertigiosa é certo, termos o mar de um dos lados e do lado oposto enormes cadeias montanhosas, espectacular. Cheguei a ver vilas ou aldeias construídas nas encostas das montanhas, onde faziam um cenário incrível de casas umas em cima de outras numa arquitectura de alto nível. Até chegar a Nápoles ainda passei por baixo do Vesúvio, isto porque em determinado ponto da viagem, a linha de combóio perfura o Vesúvio (bem, não mesmo a montanha do vulcão, mas uma das que está ao pé do vulcão) de um lado ao outro.

Apesar de estar a curtir a viagem, não correu como estava previsto, pois ... por causa da "maledita" greve, a viagem que supostamente seriam de 3 horas demorou quase 8 horas. Ou seja, em vez de chegar a Nápoles às 13h ... cheguei às 18h. Acabei por não ir visitar o Vesúvio, nem ilha de Capri, nem nada. Foi só o tempo de dar uma volta em Nápoles e entrar nuns supermercados de queijo. O cheiro foi tão intenso que não resisti. Acabei por trazer de lá uns queijos que transavam pior que chulé de pé podre, mas eram bons.
Nápoles, é uma cidade diferente das outras em que tinha estado. Uma maior confusão, com as ruas menos organizadas em termos de tráfego e pessoas, e talvez por não ser uma cidade com tantos monumentos, e edíficios espectaculares, não havia a questão de organizar a cidade. É também uma cidade dedicada ao mar, com os portos e marinas onde atracavam os barcos todos, com as várias lotas de pescas ao longo da sua marginal, e na baixa da cidade, ruas muito sujas e mal cheirosas . E foi numas dessas ruas que acabei por me registar e arranjar dormida num hotel de poucas estrelas. Em relação às pessoas, achei-as menos simpáticas que na toscânia, mas as mulheres bem mais giras.
Finalmente sem nada para visitar, fiz tempo e fui jantar. Entrei num restaurante típico daquela cidade, penso eu. As janelas com cortinas aos quadrados, a condizer com as toalhas nas mesas. Uma luz muito clara, mas com vários cantos da sala refundidos num ambiente sombrio e escuro. Sentei-me e olhei à volta. Não havia muita gente, só lá estava eu, um casal de meia-idade, mas estrangeiros concerteza, sentado ao balcão estava um tipo que pelo o aspecto, o chamaria de "pescador de baleias" ou "pirata das caraíbas", e no fundo da sala, num dos cantos refundidos 3 tipos. O tipo do meio, sentado mesmo no canto da sala, com visão previligiada para a sala toda controlava quem entrava e saía. O seu aspecto, era de cabelo penteadinho e puxado para trás com montes e montes de gel, uns óculos escuros que lhe permitia manter a descrição, com um bigode bem aparadinho e a fumar um cigarrito. Vestia-se de fato escuro e laço, com uma camisa às riscas verticais. Apercebi-me depois que tinha suspensórios, quando tirou o casaco. Os outros dois, com cara de casmurros e mal encarados, estavam ao seu lado. Deviam ser o bobby e o tareco do bacano. Era mesmo um cenário de mafia, e estava ali eu. Já imaginava a altura que o gang rival, chegava ao restaurante e fazia um daqueles massacres com metralhadoras e os três "mafiosos" ou eram mortos ou também desatavam ali aos tiros. Acabei por jantar sem problemas alguns, e fui curtindo sem dar grande bandeira o que se passava naquele canto. Quando saí, os tipos ainda permaneciam por ali, provavelmente a planificar a próxima acção mafiosa que iriam interpretar, bebendo o seu chiripiti. Dei só mais um voltinha pela cidade à noite e percebi que a confusão que encontrei de dia, também acontecia à noite. Parecia que os napolitanos não dormem. Motas a fazerem barulhos ensurdecedores, os carros a buzinarem bué ... imensas pessoas nas ruas, nem sei a fazer o quê. Uma cidade diferente do que esperava. Gostei de conhecer Nápoles.