sábado, agosto 19, 2006

Foxy Viagens - Brasil III

... continuação de Brasil II
A primeira parte da viagem estava cumprida. O capoeirando ficava para trás. Foi inesquecível, tanta Capoeira reunida num espaço magnífico e será recordado sempre.

Chegamos a Salvador da Bahia, em mais uma viagem de ônibus. Ainda raiava os primeiros raios de sol quando chegamos ao Pelourinho, onde procuramos a academia de Mestre Bamba (que já o conhecia de um dos nossos eventos de capoeira) para nos encontrarmos com ele e podermos ficar lá na academia.
A academia de Mestre Bamba, foi o espaço aonde Mestre Bimba deu as suas aulas, e quem não sabe quem foi Mestre Bimba eu depois posso-vos explicar. Aquele espaço tem uma aura espectacular. Era um edificio de 2 pisos, em que no segundo havia uma sala enorme aonde se dá o treino e fazem-se as rodas de capoeira. Aquelas paredes já têm muito para contar e quem me dera que um dia elas pudessem escrever a história daquele espaço, seria um enorme prazer saber o que se passou noutros tempos naquela sala.

Acabamos por ficar alguns dias na academia de Mestre Bamba e aproveitar para conhecer a cidade de Salvador. Nestes dias, acordava na academia, treinava na academia, voltava a treinar na academia e ...visitava a cidade. A cidade tem muita coisa para ver e visitar, conhecer a vida que os baianos levam, ver a sua cultura e apreciar aquele sol, é bastante bom. Nestas visitas, nem todas foram com o Marco. Certo dia, resolvi descer pelo Elevador Lacerda até à baixa e ir ao Mercado Modelo. O Elevador Lacerda, aonde por dia passam milhares de pessoas, leva-as da parte alta para a baixa de Salvador. Então acabei por fazer esse trajecto, quando me apercebo que no elevador estão lá dois tipos armados e com a arma bem visivel "escondida" nas calças. Só tinha mesmo vontade de o Elevador descer o mais depressa possível e sair dali de fininho. Foi o que aconteceu, nem olhei para trás.

Um dos momentos mais marcantes nesta viagem pelo Brasil, foi quando visitei com o Marco o Forte de Santo António, aonde um grande mestre e discipulo de Mestre Pastinha ensina a sua Capoeira, seu nome Mestre João Pequeno. Nesse dia ele não estava lá, e fomos recebidos por seus alunos. O Forte de Santo António, é um local meio que abandonado e com um enorme mistério. Parece que aquele local, era usado antigamente para guardar os escravos que chegavam vindos de África, e se não estiver correcto, então estou a confundir com outra coisa, mas para dar a entender, era um local com mística. Foi lá que jogamos uma Capoeira Angola de arrepiar e ficar com pele de galinha. O ambiente que aquela roda tinha, a força daqueles sons característicos de Berimbau e Atabaque que enchiam a pequena sala, impelia-nos quase a entrar em transe. De entre muitas experiências que tive enquanto praticante de capoeira, esta foi das maiores. Talvez um dia possa lá voltar, só para voltar a ter essas sensações novamente.
Salvador era isto mesmo, o Pelourinho, a Capoeira, as Baianas a vender na rua, a praia, e como em Itália às 16h30 tomava um gelado, aqui em Salvador às 16h30 tomava um guaraná bem geladinho, e como sabia bem.
Durante a estadia na Bahia, continuavam os preparativos do Carnaval, aonde vimos os ensaios de Olodum, ... e que festa caramba. Aquele povo não pára nesta época. Estes ensaios duraram quase toda a semana em que estive por lá, e num desses dias, à noite, encontramos Mestre Gato e Mestre Acordeon e acabamos por ficar na conversa com eles numa esplanada do pelourinho.
O meu último dia por lá, foi um dia já de saudades daquele ambiente, gostei imenso e tinha pouca vontade de sair de lá. Mas não saí de lá sem participar na última roda do dia na academia de Mestre Bamba, e foi sair da roda directamente para o Aeroporto. O Marco e Mestre Bamba acompanharam-me até lá, e ajudaram a embarcar o material que tinhamos comprado para o grupo. Na despedida escutei os conselhos de Mestre Bamba, que ainda hoje os retenho, e com um sentimento de nostalgia vi-me novamente dentro do avião a caminho de cá.
Ao chegar com tanta coisa que trazia, acabei por ser levado para a alfândega do aeroporto a fim de verificarem o que eu transportava. Não poderia ter de maneira nenhuma uma viagem calma.

No fim disto tudo, tenho de agradecer a hospitalidade de Mestre Bamba em deixar-nos permanecer na academia dele e dos belos almoços de feijão com arroz que me proporcionava. Aos seus conselhos sábios, também são recordados por mim. Os agradecimentos estendem-se à Dona Áurea, a mãe do Marco, que teve a amabilidade de receber em sua casa e pelos belos pequenos-almoços. Às gentes que por lá conheci, espero um dia voltar a encontrá-los. E por fim, ao meu Mestre, o facto de me ter aturado nesta viagem e me ter proporcionado uma visão daquilo que procurava na Capoeira. Sinto que foi uma grande valia ter o Marco como companheiro de viagem e por certo que nunca esquecerei. O meu obrigado vai sendo retribuído (espero...) ao longo destes anos e também nos próximos. Apesar de o meu caminho na capoeira não ser tão intenso como nós gostaríamos, vai sendo sempre vivido da forma mais sincera e absoluta.

Curiosidade: O próximo destino, será Marrocos com travessia pelo Atlas a pé. E hoje dia 19 de Agosto, há precisamente 4 anos atrás, cumpri um facto inolvidável. Fui a primeira pessoa a chegar ao segundo ponto mais alto de África, o Toubkal (4160mt). Em breve os relatos.