sábado, outubro 07, 2006

Foxy Viagens - Marrocos (IV)

... continuação de Marrocos III

Antes de mais nada, e já disse isto em posts anteriores, sobre as minhas viagens ... que adoro andar de avião. Gosto e adoro. E o regresso desta viagem foi algo inesquecível.

Tinhamos então chegado a Marraquexe. Para trás ficavam as aventuras do Atlas, e ficou também o bichinho da montanha.

Adorei estar na montanha. Assim como quando estou no mar e gosto de o sentir à minha volta, a montanha também me dava esse prazer. Ter a sensação que aqueles cumes imponentes nos vão engolir e sentir que a podemos dominar chegando lá ao topo, descobrindo e desbravando caminhos, mas sempre a respeitar a força da natureza que ela representa.

Em Marraquexe, tinhamos dois dias e meio para descansarmos e podermos disfrutar da cidade. É uma cidade em tons avermelhados ou alaranjados, com um cheiro ou sabor característicos por causa das longas filas de bancas de comida, cozinhadas no meio da praça Djemam El-Fna. Numa confusão imensa, que aumentava à medida que o sol se punha, chegando ao auge na escuridão da noite, onde músicos, encantadores de serpentes, mágicos, acrobatas, comedores de fogo, ... e carteiristas misturavam-se entre a multidão, havia espaço para sentir a vida daquela cidade. Ao lado da praça a imponente mesquita Koutoubia erguia-se perante a cidade, com o seu minarete de 80 metros de altura.
Durante as tardes passeamos na cidade e iamos às compras. Entramos na Medina e no seu mercado labiríntico, compramos presentes e regateamos muito. O outro dos meus sustos, foi quando de repente vejo um velho vestido de branco e lembro de lhe tirar uma fotografia. Saco da máquina e clic. Acontece que estava escuro e como estava no modo automático o flash disparou mesmo na cara do homem. Provavelmente o senhor não gostou muito de ter levado com o flash na cara e muito menos de ter sido fotografado assim sem mais nem menos. Começou a querer-me tirar a máquina das mãos, só que eu a guardei logo na mala e fugi dali para fora. Como era um local com muita confusão e espaços exíguos, consegui safar-me, mas levei um susto dos diabos.
Nessas tardes, o Pedro e a Teresa, queriam comprar tapetes. Fui com eles a uma casa de tapetes. Entramos e fomos vendo o que lá havia. Eles gostaram de um ou dois tapetes e começaram a regatear o preço com o senhor da loja. O senhor começou com a sua conversa e às tantas convida-nos a entrar para um armazém aonde estavam milhares de tapetes e oferece-nos um lanche de Chá de Menta. Sentamo-nos naquela sala com tapetes no chão, nas paredes, no tecto, pilhas de tapetes que serviam de assento, ou de mesa e passamos umas horas a regatear preços. Foi uma tarde bem passada. Eles acabaram por trazer 3 tapetes e eu arrependi-me de não ter trazido nenhum, pois nesta altura ficariam bem lá na minha sala (... talvez tenha de lá voltar, hum!).
De noite, conseguimos sentar numa das esplanadas com vista para o mercado, e adorei a vivência daquele povo. Eram noites cheias de muito movimento e lazer, aonde havia um dedo de conversa em todas as esquinas e falava-se de tudo.

No último dia, tinhamos de sair do hotel durante a manhã e seguir para o aeroporto. Resolvi gastar os últimos trocos em amêndoas. Como eu gosto de amêndoas, e trouxe uns 3 quilos de amêndoas que sem eu saber, iam servir de meu jantar.
Seguimos para o aeroporto e embarcamos para Casablanca. Chegados a Casablanca, e porque eu tinha marcado a viagem em cima da hora, acabei por não acompanhar os meus colegas no regresso a Lisboa, e vim num vôo mais tarde. O vôo estava marcado para as 18h, e eram 15h. Como estava sozinho, acabei por ficar no aeroporto à espera. Esperei, esperei e chegamos às 18h, quando informam no placard do aeroporto que o meu avião está atrasado e sem hora de partida. Tento informar-me nos serviços sobre o que se passava e não sabiam-me dizer nada. O tempo passava demoradamente e eu não conseguia saber nada, apesar das minhas tentativas de procurar saber o que se passava. 21h e nada. Nesta altura estava sentado numa sala do aeroporto, quando começam a chegar pessoas vindas da Costa do Marfim, que estavam a ser deportadas, portanto escoltadas pela policia do aeroporto e que decidiram as deixar lá nessa sala. Era eu, e uma data de familias negras muçulmanas que enchiam a sala. Alguns mais nervosos protestavam com os policias armados, outros rezavam agarrados ao filhos bebés, e outros até nem ligavam muito ao que se passava.
Prontamente, levantei-me e aconcheguei-me num canto, sem querer misturar com eles. Uma sensação de medo e claustrofobia apoderou-se de mim. Se houvesse para ali uma confusão qualquer, não sei bem o que me iria acontecer. Entretanto, chegava a hora da reza, e como eles têm que se virar para leste (Meca) para fazer as suas rezas, viraram-se todos (os homens) para a minha direcção. Acabei por me sentir ridicularizado ao ter uma data de muçulmanos virados para mim e a rezar. Não podia fazer mais nada, se me levantasse podia retirar-lhes a concentração da reza e não estava para arranjar mais confusões. Acabei por manter-me sentado no meu canto e tentar não chamar muita atenção. Passado este momento insólito, procurei saber como é que estava o meu vôo. Pelas 22h continuava a não saber nada. Entretanto as amêndoas que tinha comprado iam-se acabando. Por volta das 23h, vem uma pessoa ter comigo e diz-me que a partida do meu vôo já estava confirmada e que esperasse mais um bocado. Foi quando senti um enorme alívio. Passado um tempo vem ter comigo uma senhora linda e muito bem vestida, e pergunta-me se falo francês. Digo-lhe que muito mal, e então ela diz-me em Inglês que eu ia embarcar naquele momento. Ainda não tinha feito o checkin. Ela pede-me o bilhete de avião e leva-me com ela. Passo a sala de embarque de uma ponta a outra, cruzo-me com as pessoas que estava sempre a chatear para saber do meu vôo, e dirijo-me a uma porta que dá para umas traseiras do aeroporto. Passo pela policia onde a hospedeira (afinal era a hospedeira de bordo) entrega os meus documentos à policia, e enquanto validam os documentos, ela pergunta-me se gostei de Marrocos, o que fiz por cá, ... ou seja faz uma conversa de sala. Os policias carimbaram os documentos e segui com a hospedeira em direcção à pista dos aviões. E continuavamos a conversar de como tinha sido a minha viagem por Marrocos e pelo Atlas. Já em plena pista, apanhamos boleia de um carro de transportes de passageiros, que nos levou directamente ao avião / avioneta de 10 lugares e de 2 hélices. À minha espera estava um dos pilotos, que me deu as boas vindas, e pegou na minha mochila, abriu o porão do avião e colocou lá a mochila. De seguida a hospedeira chama-me para dentro do avião e vejo que lá dentro não está ninguém. Pensei, possa ... querem ver que ainda me raptam aqui em pleno aeroporto. Mas não ... muito simpática e percebendo a minha estranheza, ela pergunta-me se preciso de alguma coisa. Pergunto-lhe pelos outros passageiros, e ela responde-me que não há mais ninguém. Bonito, pensei eu .... agora viajo sozinho. Ela despede-se amavelmente e fecha as portas do avião. E lá estava eu a caminho de Lisboa, numa avioneta "particular". Estranhei, mas depois dei por mim a curtir aquela viagem. Depois da avioneta "particular" ter levantado vôo, vou ter com os pilotos e puxar conversa.

Não disse ainda, mas neste avião não existe o chamado cockpit. Os lugares dos pilotos são os 2 primeiros lugares das filas do avião, por isso a "cabine" deles era conjunta aos lugares dos passageiros onde podiamos estar à vontade e poder conversar com eles.

Um dos pilotos era canadiano e outro francês e estavam a fazer este tipo de vôos para ganhar horas de vôo para contar para a sua carteira de piloto. Por isso é que andavam a voar de um lado para outro sem destino definido. Acabei por fazer a viagem toda ao lado deles, e acabaram-me por mostrar tudo o que podiam, desde os planos de vôo até aos interruptores que aquele avião tinha e a função de cada um. A viagem foi magnífica, além de que quando saimos de Casablanca, e devido ao tempo estar muito limpo e também ao facto de ser de noite, já se conseguia vislumbrar Portugal. As luzes ao longo da costa delineavam os contornos do país. É uma imagem a não esquecer. E à medida que iamos aproximando de Lisboa, cada vez mais nítido era o país. Do Algarve, descobria-se Faro e Portimão, depois a ponta de Sagres, de seguida o cabo de Sines, vi Porto Covo lá em baixo, e ainda por cima do Algarve já se via a pista de aterragem em Lisboa. Eram as luzes mais intensas, lindo. Depois as pontes Vasco da Gama e 25 de Abril, estavam ali mesmo à nossa frente, e a cidade de Lisboa cada vez mais nitída. Sobrevoamos Lisboa até aterrar no aeroporto. Foi uma aterragem perfeita e percebi como eles dominaram a máquina para ela aterrar como ditam as regras.
Depois do avião parado, o próprio piloto abre o porão tira-me a mochila e entrega-me. Foi um autêntico serviço personalizado. Despeço-me dos pilotos e dirijo-me à saída do aeroporto, passo pela fronteira e já estou cá fora. Foi a saída mais rápida que alguma vez tive, desde que saí do avião até chegar à zona de chegadas do aeroporto. Não deve ter passado mais que 3 minutos.

Para quem adora de andar de avião, esta foi uma das melhores prendas que tive, já que dois dias depois iria fazer mais um aniversário. Feliz por mais uma viagem vivida, por mais uma viagem que aprendi muito, por mais uma viagem que tenho muito para contar, e por ter a certeza que nunca mais irei viver uma experiência tão inesquecível e única.

Certeza que fiquei, era que, queria muito partilhar as minhas viagens com quem mais conseguisse encontrar aquilo que procuro nesta viagem da vida.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Acompanhei esta tua viagem... e adorei!

Realmente,és um sortudo...
A imagem de Portugal, lá de cima, deve ser espectacular... Que experiência!!!!

Esta tua viagem, parece-me a mim, que foi uma experiência fantástica cheia de emoções e adrenalina :)

09 outubro, 2006 10:35  

Enviar um comentário

<< Home