domingo, outubro 29, 2006

Foxy Viagens - Escandinávia (II)

... continuação de ( Escandinávia I ) .

Lá cheguei ao aeroporto, atrasado mas cheguei. Faltava pouco para as 7h00, e rapidamente efectuei o checkin e despachei a mochila pela porta de bagagens fora do formato. Foi a primeira vez que a mochila foi por esta forma para o porão do avião, e ía lá eu imaginar que ela começava uma aventurazinha a partir deste local. Nesta altura já se faziam as últimas chamadas para o meu vôo, e praticamente já todos os passageiros iam a caminho do avião por aqueles autocarros que nos levam da gare para o local aonde o avião está estacionado. Lá fui eu a correr para o autocarro, e depois acabei por ser o último passageiro a entrar no avião, mas ainda tive tempo de ver a minha mochila a entrar no porão do avião, sozinha, pois as outras bagagens já lá estavam. Tive ainda tempo de ajudar um casal idoso espanhol a levar a sua bagagem de mão para o avião. Não sei como é que permitem alguns passageiros levaram bagagens de mão como autênticas malas de cartão para dentro do aparelho. Aquilo não dá jeito nenhum transportar e ainda estorva a arrumação das convencionais bagagens de mão.

"Chocolate Derretido"
Finalmente lá fui eu a caminho de Madrid, num avião chamado de "Eusébio". Logo por aí não seria um pronúncio de que a viagem pudesse correr bem, pois apesar do tipo até ser Moçambicano ou ter sido um grande jogador de futebol, pertencia ao clube dos lampiões. Mas como tinha tido uma noite fenomenal ao som dos Metallica, e esta altura, era a ideal para finalmente lembrar e registar em memória os momentos mágicos daquele concerto. Estava completamente satisfeito e feliz também porque ia viajar e conhecer novos lugares. A viagem até Madrid foi calma e sem sobressaltos nenhuns. A bordo, li as noticias do dia e comi qualquer coisinha.

Detesto, a comida de avião. É completamente enjoativa, à parte alguns alimentos secos (que não tenham que estar armazenados num frigorífico ou que tenham sido aquecidos em micro-ondas) de resto é tudo uma porcaria. Só dá vontade vomitar, mesmo só com o cheiro da comida.

Assim tive que aproveitar os alimentos secos que lá iam passando e alguns doces. Também ofereceram umas pequenas barras de chocolate que aproveitei logo para lhes deitar a mão. Comi alguns e guardei outros no bolso das calças para mais tarde saboreá-los.
Chegamos a Madrid, e ao sairmos do avião, por causa da minha mochila ter sido a última a entrar no avião, acabou por ser a primeira a sair, logo deu para ver o maltrato que ela sofreu nas mão daqueles espanhóis. Pegaram na minha mochila e fizeram-na voar para cima do carro de transporte de bagagens. Possa....
Em Madrid, tinha que esperar umas 4 horas para apanhar o avião com destino final a Copenhaga. E era a altura de aproveitar e tentar descansar um bocado, porque estava praticamente de directa. Acabei por descansar, sentado num dos bancos daquele aeroporto, virado para os aviões que aterravam e levantavam vôo.

Sempre adorei os aviões e vê-los a aterrar e a levantar vôo é das coisas que mais aprecio. É incrível como um monstro daquele tamanho a pesar toneladas consegue se manter no ar e principalmente a capacidade que tem de elevar-se no ar. Quando era miúdo lá com os 5, 6 anos adorava ir ao aeroporto ver os aviões a aterrarem e a levantarem, e ainda hoje isto acontece.

Depois do merecido descanso, lá segui até Copenhaga. A viagem, outra vez calma e sem sobressaltos foi rápida. Ao sobrevoarmos o norte da Europa, lá em baixo via-se perfeitamente os países baixos, e o Mar do Norte, e as ilhas que por lá existem, e depois à medida que se aproximava do destino, o número de ilhas era cada vez maior. No final, ao sobrevoarmos Copenhaga via-se perfeitamente a cidade, pois o avião teve que se posicionar para efectuar a aterragem na direcção correcta e com isso quase que deu uma volta à cidade, dando-me a oportunidade de conhecer a cidade lá nas alturas. Lá estava a ponte que liga Copenhaga a Malmo (na Suécia), as turbinas eólicas colocadas no Mar do Norte, os grandes espaços industriais da cidade e depois o aglomerado de casas numa organização rectilínia e ordenada ao longo de grandes avenidas.
Aterramos mais uma vez sem problemas (agora é que eles iam começando a aparecer). Saí do avião e assim que entro no aeroporto, coloco as mãos nos bolsos das calças e deparo-me com os chocolates que tinha guardado, completamente derretidos nas calças. A mão completamente castanha (e gulosa) e as calças com uma mancha castanha no sitio dos bolsos. A aparência que aquilo dava não era a melhor, certamente ... a minha sorte mesmo é que não era na parte de trás das calças, senão tava bem arranjadinho ....

Continua no próximo domingo, com mais cenas incríveis....

sábado, outubro 28, 2006

Foxy-Cine "Uma familia à beira de um ataque de nervos"

Há filmes de comédia que é só de piadas fáceis e há outros, de comédia, que envolvem um humor mais difícil de passar para o espectador. Algumas destas formas de humor, e que eu especialmente aprecio, são aquelas em que sarcasticamente, contraditoriamente ou mesmo sadicamente se transmite essa forma de comunicação. Sim, o humor para mim é uma forma de comunicação, apesar de aparentar ser um mero "desestabilizador social", é onde procuro e em qualquer situação que seja, encontrar um pequeno detalhe para o transformar numa imagem "desestabilizadora" desta sociedade carente de comédia. (Parênteses) - Para quem me conhece, já me viram a rir por "nada" .... é que não é bem por "nada" é por uma coisinha qualquer mesmo ["A Disturbing Mind is always thinking off ..."] -.

Este filme, em inglês "Little MissSunshine", apresenta-nos uma familia em que todos os elementos têm uma pancada fora do comum, desde o filho mais velho que fez um voto de silêncio e comunica através de mensagens escritas no seu bloco de notas, ou um avô que é viciado em heroína por exemplo. Juntou-se esta familia numa grande viagem através das estradas da América e todos juntos dentro de uma "vanette" a cair de velha vão acontecendo as mais váriadas peripécias. O filme não recorre à comédia fácil, mas sim a uma forma inteligente de fazer rir os espectadores, não só de piadas como também através de gestos simples e bem encaixados na realização ou inclusivé com momentos de silêncio.

Citações:
Dwayne: [After finding out that he is colour blind and can't fly planes, and the first word he said when he breaks his silence vote] FUUUUUUCK!!!

quinta-feira, outubro 26, 2006

Tempo de

De fortes chuvas que caiem, dos céus relampejados e atordoados em ecos de trovões, que em noites escuras vão isolando a alma na prisão de uma solidão. Sem luz, sem o calor do fogo, sem nada, num desperdício de emoções várias.

Do fogo que aqueceria a noite, que continua a consumir por dentro de um coração forrado com amianto e apertado com os nós que se foram tornando cada vez mais fortes. Bastará um abrir do coração para que da implosão, a explosão se torne na força tal, que árvores velhas se vergarão perante ti.

Da força das árvores, dessas mesmas, despidas, lânguidas e secas, que demonstram cruamente as suas franquezas, são sinónimo de que adormecer nos seus braços, na segurança de quem protege os ninhos mais fracos, por mais fortes que sejam os ventos, é com certeza absoluta a transparência do sentimento mais profundo e único que existe para dar.

Dos ventos fortes, que passam e desarrumam o caos e nada faz sentido entre tristes sentimentos de alegrias contidas, expressas em fugazes momentos. Momentos esses que implodem em sonhos que jamais se realizarão.
Segue-se a espera deste próximo Inverno, que faça do inferno presente, um passado distante para nunca mais o voltar a encontrar.

segunda-feira, outubro 23, 2006

Foxy Viagens - Escandinávia (I)

Para trás tinham já ficado os destinos de Itália, Brasil e Marrocos. Cada uma com a sua história única e com experiências diferentes e dificeis de encontrar numa segunda vez.
Desta vez o destino que me interessava eram os países nórdicos, a Escandinávia, e procurar viajar entre a Dinamarca, Suécia, Finlândia e Noruega. Uma vez mais ía sozinho, por opção e porque efectivamente não havia mesmo companhia. Estavamos no ano de 2004, um ano marcante, já que houve vários acontecimentos, quer pessoais, quer sociais preponderantes e muito marcantes. Por exemplo houve o Euro 2004 ou o primeiro Rock in Rio, ou então o ano que recebi uma bela prenda de Natal, que foi o meu despedimento da empresa para o qual estive 100% de alma e coração durante 4 anos.
O facto de escolher os países nórdicos também contribuíu o interesse em conhecer como é que aqueles tipos vivem, quando têm uma das melhores taxas de produtividade e riqueza bruta, ou como é que "sobrevivem" a dias quase inteiros de sol durante o Verão e dias de noite no Inverno.
Antes de começar este relato, gostaria de fazer um exercício, imagine-se um tipo que vai viajar sozinho. Agora que azares e acontecimentos estranhos podem acontecer a um viajante assim. Gostaria de ter uma lista com esses possíveis acontecimentos imagináveis e inimagináveis, que depois quando terminar os relatos veremos se batem certo. De facto foi uma viagem inesquecível, não pelo que vivi mas pelas histórias que terei para contar durante muito e muitos anos. Posso talvez considerar (até agora!) como sendo "A Viagem" ...

Tudo começou no dia 4 de Junho, uma sexta-feira. Como sempre em termos de trabalho havia muita coisa para fazer, tentei despachar o máximo as coisas porque queria sair cedo já que este era um dia muito aguardado por mim e pelo Kase para irmos ver os "grandes" Metallica ao Rock in Rio. Como sempre vi-me aflito para sair do escritório, num lado do telefone era o Kase a insistir para me pisgar e do outro o meu manager a mandar fazer cenas, mesmo eu achando que não valia a pena fazer. Despachei-me por volta das 17h30 e fomos apressados para o parque da Bela Vista mas acabamos por perder a actuação dos Sepultura, ou seja não fizemos o "aquecimento" para o que viria mais tarde, apesar de ainda tocarem os Slipknot e os mais soft Incubus. Ainda tivemos tempo de mandar um alô ao caro cavaleiro do apocalipse, Xôr Bazuca, que fazia anos nesse dia. Foram concertos fenomenais, gostei dos Slipknot (ao vivo) e os Metallica foram simplesmente divinais. Saí do recinto bem tarde por volta das 3h, com o concerto a fechar numa apoteose de labaredas de fogo e muito fogo de artifício, onde cheguei a casa por volta das 4h.
Quase sempre, as minhas viagens são preparadas em cima da hora, isto é, eram 4h da manhã e não tinha a mochila preparada e tinha de estar no aeroporto às 6h30 com vôo marcado para as 7h30 com destino a Copenhaga. Portanto, tinha que arrumar tudo e NÃO me esquecer de nada, e decididamente só iria dormir na escala em Madrid (aonde tinha de fazer o transbordo para outro avião), isto porque detesto dormir em transportes, quaisquer que eles sejam.
Como vinha do concerto, com o pessoal aos moches e a soltarem a poeira que existia no recinto, eu estava completamente porco e tive que tomar um daqueles banhos bem caprichados. Seriam por volta das 5h do dia 5 de Junho que tomava este belo e retemperado banho, e vestia-me com a roupa normal de viagem. Mais daqui a uns relatos vão perceber do que estou a falar.
Como era tão cedo, tive que ir de autocarro para o aeroporto numa viagem que demora sensivelmente 40 minutos. Ia chegar atrasado quase de certeza, porque acabei por adormecer um bocado e não fui no autocarro que pensava e fui num mais tarde.

(Continua no próximo domingo...)

sexta-feira, outubro 20, 2006

Baú de Recordações


Quando resolvi pintar as minhas roupas e a procurar uma nova moda. Passados estes anos todos não aconteceu moda nenhuma mas as roupas ficaram.
Pena das calças que tinham um "moto-biker" e um "índio" pintados e que não sei delas.

quinta-feira, outubro 19, 2006

Há por aí ...

.... Chocolate com Morangos ?

Apetecia-me, sim ...

quarta-feira, outubro 18, 2006

Bacoradas

À dias em conversa com um amigo, e no espaço de minutos ele saíu-se com as seguintes bacoradas.

- "Maximinimização";
- "Epá, tenho de arranjar uma 'Baby-Sister' para os meus miúdos ..."

Do que eu me lembrei das bacoradas e outras calinadas de tempos passados. Foram bacoradas que fizeram parte da nossa juventude, muitas (a maior parte) já se diluiram no tempo, algumas com esforço nos vamos lembrando, e outras ainda ficaram e continuam a fazer parte do nosso mundo (dos BZKRN).
Ainda tiveram a feliz ideia de as escrever num caderno, o problema é que esse caderno parece que desapareceu.
Foram esses bons momentos, sem chatices e com muita palhaçada que vou lembrando de vez em quando.

Como por exemplo do "Atum, Calvo, Claro .... "
(não termino a frase, mas lembro-me perfeitamente como e onde começou)

segunda-feira, outubro 16, 2006

Foxy-Cine "A Dália Negra"

Às tantas já não percebia nada do filme, mas depois parece que as peças encaixavam-se, assim sem mais nem menos. Foi assim que saí da sala de cinema. Gostei, por muito rebuscado que fosse o argumento, e mesmo baseado num livro e num facto real, o filme é interessante.
"A Dália Negra", passa-se nos anos 40, onde acontecem tumultos de várias ordens. Não chega a falar da máfia, mas sim de como a própria sociedade já vivia num clima decalcado. Do ponto de vista histórico é interessante efectuar este retrocesso na cronologia e ver como as coisas eram antigamente. Brian De Palma, aqui efectua um bom trabalho, ajustando a intriga num género de filme "noir". Usa de narrativas "off" ao longo do filme e proporciona planos e fotografia características deste género de filme, o que combina bem com a época dos acontecimentos. Também alguns efeitos de "travelling" são bem usados, como por exemplo na cena em que a Kay (Scarlett Johansen) aparece pela primeira vez, porque dá a sensação que nos faz viajar até ao encontro dela.

Quanto à realização, o filme é como que uma reconstrução da morte da "Dália Negra", em que vários momentos vão sendo explorados ao longo da história e depois junta-se tudo no final.

Em desempenhos, tenho a sensação que mais uma vez a Scarlett Johansen, cada vez mais se apropria para estes tipos de papel, o de mulher fatal.

Citações:

Sgt. Leland "Lee" Blanchard : The victim has been cut in half, all the organs removed, blood drained from the body, and the mouth sliced ear to ear.

Madeleine Linscott: [to Bucky] I think you'd rather fuck me than kill me. But you don't have the balls to do either.

sábado, outubro 14, 2006

Thoughts

... through these days, opposite feelings flies between thoughts of beliefs and thoughts of cruel reality.

Believing in dreams and what they have to say, a pretty smile it's enough to paint a picture. A blue sky and a magic light in your face would be a part of this precious picture. Hart's reason will guide to a new way ...

The cruel reality and the real words, even followed by untrue thoughts, hurts most than everything. The run away look, to fight against or feelings which it's so difficult to keep inside. Simply, Head's reason says no and never ...

sexta-feira, outubro 13, 2006

Sexta-Feira, 13

Noite escura e sem claridade alguma, só a lua cheia dessa noite a poderia iluminar, mas as copas das árvores, como lanças de guerra, apontam ao céu cortando-o em fatias e fechando ainda mais a noite.
Uma estrada perdida, corta num rasgar, um caminho para o infinito, aonde ninguém passa. Um estranho, atordoado, permanece prostrado ao longo da berma. De corpo magro e esguio, com várias escoriações a rasgar os seus músculos, fazem-no estar num estado inanimado e insensível. Nota-se nele a metamorfose e as dores que está a sofrer. O seu corpo permanece ao mesmo tempo paralisado e em transfiguração . As costas acorcundam-se cada vez mais, os seus braços cada vez mais fortes, mas fracos da tortura que continua a sofrer. Vai continuar naquela estrada perdida, até alguém tiver a coragem de fazer sarar as feridas daquele corpo.
Entretanto a noite continua escura e a lua cheia tarda em aparecer.

quarta-feira, outubro 11, 2006

Foxy-Cine "A Senhora das Águas"

Uma "Bed Time Story", ... história de embalar.
Há vezes em que sentimos uma necessidade de colocar a realidade de lado e ir às profundezas da nossa imaginação, e lá descobrir mundos e criaturas novas. Lendas e contos fantásticos, histórias que nos deixam a sonhar, e fazem-nos encontrar a meninice que está entre nós, devolvendo-nos aquela alegria interior que esteve sempre connosco.

Ora bem, a Senhora das Águas, serve perfeitamente para embarcarmos nessa viagem ao nosso universo imaginário. É um filme que assenta num argumento bem idealizado, mas que por uma razão qualquer (e ainda por cima com um realizador com ideias fantásticas) peca por ter a falta de uma magia. MAGIA, é a palavra correcta para acontecer nestes filmes de fantasia, e que pessoalmente acho que não existiu. O filme aborda a história de uma ninfa, que precisa de ajuda de uns quantos personagens para poder seguir a sua viagem. Acontece que ao longo do filme, perde-se um pouco a história dela, focando-se mais na personagens à sua volta. Um dos críticos de cinema que gosto de ler diz que o filme é o pior deste ano, por ser um mau filme com ideias, mas não acho que seja um mau filme.
Há coisas bem interessantes e giras, como por exemplo o uso de uma relação "estranha" entre uma mãe e uma filha para criar uma estrutura narrativa à história do filme, optando e bem, num humor simples. Interessante, é também o uso de alguns planos de realização, como na festa da piscina, através de vista de topo ou numa cena em que uma porta se abre e em vez do plano ser de frente ou de lado para a porta, o plano é feito por cima originando logo aí um sentido de suspense.
O que se poderia evitar, seriam as cenas de humor forçado e exageros que aconteceram, que achei que não encaixava bem no desenrolar do filme, como por exemplo quando o Cleveland se transfigura e reage como uma criança que pretende ouvir a sua história de embalar, ... é muito mau.
Mr. Night Shyamalan, é daqueles realizadores que sabe contar histórias, é um realizador que já mostrou que sabe filmar grandes filmes, é um realizador jovem e cheio de ideias interessantes (casos dos filmes O Sexto Sentido ou do Protegido), e que acredito que fará muitos mais filmes fantásticos, mas esta "Bed Time Story" merecia algo mais.

Citações:
Vick: I don't know who you are, but you did something to me... to my thoughts
.....
The Lady: Do you wish to know your future?
.....
Young-Soon Choi: Mr. Heep, it's time we show them that some stories are real!

sábado, outubro 07, 2006

Foxy Viagens - Marrocos (IV)

... continuação de Marrocos III

Antes de mais nada, e já disse isto em posts anteriores, sobre as minhas viagens ... que adoro andar de avião. Gosto e adoro. E o regresso desta viagem foi algo inesquecível.

Tinhamos então chegado a Marraquexe. Para trás ficavam as aventuras do Atlas, e ficou também o bichinho da montanha.

Adorei estar na montanha. Assim como quando estou no mar e gosto de o sentir à minha volta, a montanha também me dava esse prazer. Ter a sensação que aqueles cumes imponentes nos vão engolir e sentir que a podemos dominar chegando lá ao topo, descobrindo e desbravando caminhos, mas sempre a respeitar a força da natureza que ela representa.

Em Marraquexe, tinhamos dois dias e meio para descansarmos e podermos disfrutar da cidade. É uma cidade em tons avermelhados ou alaranjados, com um cheiro ou sabor característicos por causa das longas filas de bancas de comida, cozinhadas no meio da praça Djemam El-Fna. Numa confusão imensa, que aumentava à medida que o sol se punha, chegando ao auge na escuridão da noite, onde músicos, encantadores de serpentes, mágicos, acrobatas, comedores de fogo, ... e carteiristas misturavam-se entre a multidão, havia espaço para sentir a vida daquela cidade. Ao lado da praça a imponente mesquita Koutoubia erguia-se perante a cidade, com o seu minarete de 80 metros de altura.
Durante as tardes passeamos na cidade e iamos às compras. Entramos na Medina e no seu mercado labiríntico, compramos presentes e regateamos muito. O outro dos meus sustos, foi quando de repente vejo um velho vestido de branco e lembro de lhe tirar uma fotografia. Saco da máquina e clic. Acontece que estava escuro e como estava no modo automático o flash disparou mesmo na cara do homem. Provavelmente o senhor não gostou muito de ter levado com o flash na cara e muito menos de ter sido fotografado assim sem mais nem menos. Começou a querer-me tirar a máquina das mãos, só que eu a guardei logo na mala e fugi dali para fora. Como era um local com muita confusão e espaços exíguos, consegui safar-me, mas levei um susto dos diabos.
Nessas tardes, o Pedro e a Teresa, queriam comprar tapetes. Fui com eles a uma casa de tapetes. Entramos e fomos vendo o que lá havia. Eles gostaram de um ou dois tapetes e começaram a regatear o preço com o senhor da loja. O senhor começou com a sua conversa e às tantas convida-nos a entrar para um armazém aonde estavam milhares de tapetes e oferece-nos um lanche de Chá de Menta. Sentamo-nos naquela sala com tapetes no chão, nas paredes, no tecto, pilhas de tapetes que serviam de assento, ou de mesa e passamos umas horas a regatear preços. Foi uma tarde bem passada. Eles acabaram por trazer 3 tapetes e eu arrependi-me de não ter trazido nenhum, pois nesta altura ficariam bem lá na minha sala (... talvez tenha de lá voltar, hum!).
De noite, conseguimos sentar numa das esplanadas com vista para o mercado, e adorei a vivência daquele povo. Eram noites cheias de muito movimento e lazer, aonde havia um dedo de conversa em todas as esquinas e falava-se de tudo.

No último dia, tinhamos de sair do hotel durante a manhã e seguir para o aeroporto. Resolvi gastar os últimos trocos em amêndoas. Como eu gosto de amêndoas, e trouxe uns 3 quilos de amêndoas que sem eu saber, iam servir de meu jantar.
Seguimos para o aeroporto e embarcamos para Casablanca. Chegados a Casablanca, e porque eu tinha marcado a viagem em cima da hora, acabei por não acompanhar os meus colegas no regresso a Lisboa, e vim num vôo mais tarde. O vôo estava marcado para as 18h, e eram 15h. Como estava sozinho, acabei por ficar no aeroporto à espera. Esperei, esperei e chegamos às 18h, quando informam no placard do aeroporto que o meu avião está atrasado e sem hora de partida. Tento informar-me nos serviços sobre o que se passava e não sabiam-me dizer nada. O tempo passava demoradamente e eu não conseguia saber nada, apesar das minhas tentativas de procurar saber o que se passava. 21h e nada. Nesta altura estava sentado numa sala do aeroporto, quando começam a chegar pessoas vindas da Costa do Marfim, que estavam a ser deportadas, portanto escoltadas pela policia do aeroporto e que decidiram as deixar lá nessa sala. Era eu, e uma data de familias negras muçulmanas que enchiam a sala. Alguns mais nervosos protestavam com os policias armados, outros rezavam agarrados ao filhos bebés, e outros até nem ligavam muito ao que se passava.
Prontamente, levantei-me e aconcheguei-me num canto, sem querer misturar com eles. Uma sensação de medo e claustrofobia apoderou-se de mim. Se houvesse para ali uma confusão qualquer, não sei bem o que me iria acontecer. Entretanto, chegava a hora da reza, e como eles têm que se virar para leste (Meca) para fazer as suas rezas, viraram-se todos (os homens) para a minha direcção. Acabei por me sentir ridicularizado ao ter uma data de muçulmanos virados para mim e a rezar. Não podia fazer mais nada, se me levantasse podia retirar-lhes a concentração da reza e não estava para arranjar mais confusões. Acabei por manter-me sentado no meu canto e tentar não chamar muita atenção. Passado este momento insólito, procurei saber como é que estava o meu vôo. Pelas 22h continuava a não saber nada. Entretanto as amêndoas que tinha comprado iam-se acabando. Por volta das 23h, vem uma pessoa ter comigo e diz-me que a partida do meu vôo já estava confirmada e que esperasse mais um bocado. Foi quando senti um enorme alívio. Passado um tempo vem ter comigo uma senhora linda e muito bem vestida, e pergunta-me se falo francês. Digo-lhe que muito mal, e então ela diz-me em Inglês que eu ia embarcar naquele momento. Ainda não tinha feito o checkin. Ela pede-me o bilhete de avião e leva-me com ela. Passo a sala de embarque de uma ponta a outra, cruzo-me com as pessoas que estava sempre a chatear para saber do meu vôo, e dirijo-me a uma porta que dá para umas traseiras do aeroporto. Passo pela policia onde a hospedeira (afinal era a hospedeira de bordo) entrega os meus documentos à policia, e enquanto validam os documentos, ela pergunta-me se gostei de Marrocos, o que fiz por cá, ... ou seja faz uma conversa de sala. Os policias carimbaram os documentos e segui com a hospedeira em direcção à pista dos aviões. E continuavamos a conversar de como tinha sido a minha viagem por Marrocos e pelo Atlas. Já em plena pista, apanhamos boleia de um carro de transportes de passageiros, que nos levou directamente ao avião / avioneta de 10 lugares e de 2 hélices. À minha espera estava um dos pilotos, que me deu as boas vindas, e pegou na minha mochila, abriu o porão do avião e colocou lá a mochila. De seguida a hospedeira chama-me para dentro do avião e vejo que lá dentro não está ninguém. Pensei, possa ... querem ver que ainda me raptam aqui em pleno aeroporto. Mas não ... muito simpática e percebendo a minha estranheza, ela pergunta-me se preciso de alguma coisa. Pergunto-lhe pelos outros passageiros, e ela responde-me que não há mais ninguém. Bonito, pensei eu .... agora viajo sozinho. Ela despede-se amavelmente e fecha as portas do avião. E lá estava eu a caminho de Lisboa, numa avioneta "particular". Estranhei, mas depois dei por mim a curtir aquela viagem. Depois da avioneta "particular" ter levantado vôo, vou ter com os pilotos e puxar conversa.

Não disse ainda, mas neste avião não existe o chamado cockpit. Os lugares dos pilotos são os 2 primeiros lugares das filas do avião, por isso a "cabine" deles era conjunta aos lugares dos passageiros onde podiamos estar à vontade e poder conversar com eles.

Um dos pilotos era canadiano e outro francês e estavam a fazer este tipo de vôos para ganhar horas de vôo para contar para a sua carteira de piloto. Por isso é que andavam a voar de um lado para outro sem destino definido. Acabei por fazer a viagem toda ao lado deles, e acabaram-me por mostrar tudo o que podiam, desde os planos de vôo até aos interruptores que aquele avião tinha e a função de cada um. A viagem foi magnífica, além de que quando saimos de Casablanca, e devido ao tempo estar muito limpo e também ao facto de ser de noite, já se conseguia vislumbrar Portugal. As luzes ao longo da costa delineavam os contornos do país. É uma imagem a não esquecer. E à medida que iamos aproximando de Lisboa, cada vez mais nítido era o país. Do Algarve, descobria-se Faro e Portimão, depois a ponta de Sagres, de seguida o cabo de Sines, vi Porto Covo lá em baixo, e ainda por cima do Algarve já se via a pista de aterragem em Lisboa. Eram as luzes mais intensas, lindo. Depois as pontes Vasco da Gama e 25 de Abril, estavam ali mesmo à nossa frente, e a cidade de Lisboa cada vez mais nitída. Sobrevoamos Lisboa até aterrar no aeroporto. Foi uma aterragem perfeita e percebi como eles dominaram a máquina para ela aterrar como ditam as regras.
Depois do avião parado, o próprio piloto abre o porão tira-me a mochila e entrega-me. Foi um autêntico serviço personalizado. Despeço-me dos pilotos e dirijo-me à saída do aeroporto, passo pela fronteira e já estou cá fora. Foi a saída mais rápida que alguma vez tive, desde que saí do avião até chegar à zona de chegadas do aeroporto. Não deve ter passado mais que 3 minutos.

Para quem adora de andar de avião, esta foi uma das melhores prendas que tive, já que dois dias depois iria fazer mais um aniversário. Feliz por mais uma viagem vivida, por mais uma viagem que aprendi muito, por mais uma viagem que tenho muito para contar, e por ter a certeza que nunca mais irei viver uma experiência tão inesquecível e única.

Certeza que fiquei, era que, queria muito partilhar as minhas viagens com quem mais conseguisse encontrar aquilo que procuro nesta viagem da vida.

sexta-feira, outubro 06, 2006

Lisonjeado ...

... 31 anos depois, conhecer a obstetra que me trouxe ao mundo.

Mas quem vai exprimir aqui o seu contentamento vai ser a minha mana mais nova.

Em resposta ao post colocado dia 23 de Maio de 2006:

Caro irmão:
Desde já obrigado pela prenda que me ofereceste, muito original, pouco útil!
Escolho o dia de hoje para fazer uso desta, porque assim se proporcionou, uma vez que hoje conhecemos a obstetra que te fez vir ao mundo!

Isto significou risota a semana toda, senão vejamos:


1. a médica perguntou à nossa mãe (elo de ligação entre todos) se tu eras
uma pessoa normal justificando que pessoas que nascem de cesariana por vezes ficam com alguns problemas... ESTÁ TUDO EXPLICADO!!! Tantas vezes te questionas sobre a tua anormalidade, esta apenas se deve ao teu nascimento, no dia 24 de Agosto de 1975 (para quem não sabe e geralmente se esquece porque está na praia de papo para o ar e com preguiça de pensar!)

2. nunca na tua vida pensaste em rever a primeira pessoa que viste neste
mundo, mas passado 31 anos ali estava ela a olhar para ti e a pensar "parece-me bem, não têm aparentemente sintomas de mal formação, aparenta um ar saudável..." e por sua vez tu pensavas "foste tu que me trouxeste a esta vida dura e cruel... será que me trocaste com outro bebé? será que posso eventualmente estar na família errada? hummm..."

3. a tua obstetra conhecia o meu obstetra, que por sinal era russo e não
falava português... como seria a comunicação dele com a sua equipa no dia em que nasci? será por isso que tiveram a recorrer a ferros e ventosas para me fazer vir ao mundo... porque não conseguiam perceber pevas do que ele dizia e resolveram dar-lhe tudo o que existia à sua volta?

4. a obstetra do Nelson tem um recorde pessoal de cesarianas por dia... será
que ele nasceu num dia recorde para ela?

5. o que dizemos nós à pessoa que nos fez nascer? "e pronto... a minha vida
é esta..." ou "vê o rapagão que eu sou!!!" ou "eu queria continuar lá dentro..." ou " (espaço para reflexão pessoal - o que diriam ao vosso obstetra?)"
-- Ora aqui está uma coisa jeitosa que a pateta da minha irmã resolveu fazer.
Aos bloggers e outros visitantes, coloquem os vossos comentários sobre o tema em reflexão acima descrito. --

6. ela deixou de exercer clinica uns tempos depois... como diria Dona
Milu...
suuuuuuuuuuusssssssssssssssspppppppppeiiiiiiiiiiiiittttttttttooooooooo?

Bem... as divagações em torno da obstetra do Nelson são demasiadas para serem exploradas neste espaço... o bom disto tudo é que com a saída dele ficou um espaço livre para eu poder ocupar e nascer uns tempos depois no dia 23 de Maio de 1978 pelas mãos de um sr russo que não falava português!

Tens a minha compreensão para todas as tuas maluqueiras uma vez que está tudo explicado!

quinta-feira, outubro 05, 2006

Foxy Viagens - Marrocos (III)

... continuação de Marrocos II

Estava-se a iniciar uma viagem de 10 dias, em que 7 desses dias eram percorridos a pé, atravessando o Atlas e culminando a caminhada na ascenção ao segundo ponto mais alto de África.

Chegados a Marraquexe, e já com todos os participantes da aventura encontrados, mais 2 senhoras que se juntavam a nós, formando um grupo de 5 pessoas nesta viagem, mais o guia local que nos ia levar pelas montanhas a fora, Mohamed Tazhgzouet de seu nome e um distinto Berbere. Fomos instalados num hotel com uma piscina interior formidável. Fomos ao banho, sem imaginar-mos que esse seria um dos últimos banhos (decentes) que iamos ter nos próximos dias. No fim desse primeiro dia em Marraquexe, e aproveitando o entardecer tardio fomos dar uma volta pela cidade. Inclusivé, as duas senhoras lembraram-se de ir fazer uma caminhada de 2 horas para "aquecer" os músculos para os dias seguites (bad choice!!!), porque cansaram-se e como não estavam preparadas, sofreram um bocado uns dias mais tarde, e depois porque também não apreciaram os primeiros sabores que emanavam daquela cidade. Desde já uma cidade fantástica.

No dia seguinte lá fomos nós em direcção às montanhas. Em jipes, fomos subindo até ao ponto de partida em Oukaimeden (2600m). Ali estavam à nossa espera os burros que iam levar a maior parte das nossas malas, e o cozinheiro mais o filho, que nos iam preparar as refeições para aqueles dias. Depois de um pequeno repasto (um piquenicão!) no sopé do nosso primeiro cume, de uma Tagine com vários legumes, carnes e queijo a acompanhar, iniciariamos a nossa caminhada. Nesta altura os Chás de Menta começavam a fazer parte das nossas vidas. É um chá bem bom, gostoso, energético, e que se bebe muito bem, mas ao o bebermos umas 50 vezes ao dia, (pois era ao pequeno almoço, a seguir ao pequeno almoço, a meio da manhã, antes do almoço, durante o almoço, a seguir ao almoço, duas ou mais vezes durante a tarde, ao lanche, na chegada ao acampamento, durante a hora de jantar, a seguir ao jantar e ainda antes de dormir), faria que ao fim dos 7 dias já o não pudessemos ver à nossa frente essa bendita bebida.
Então, liderados pelo nosso guia Berbere que só falava francês, transpusemos o primeiro cume o colo Eddi (2928m) , onde aqui neste sitio consegui uma das melhores fotos que já fotografei até hoje e que vai estar presente num quadro algures na minha sala. Ora se acabamos de subir, começariamos a descer agora. Uma descida longa à volta de um vale povoado e muito verdejante aonde avistamos comunidades berberes nos seus afazeres diários.

O povo Berbere, vive nas montanhas e é um povo nómada, mas bem sociáveis. Os Tuáregs, vivem no deserto, também nómadas, mas muito menos sociáveis, preferindo viver em comunidades fechadas. Foi o que me apercebi e que contaram-me.

Por fim chegamos a Ouaneskra (2200m) aonde pernoitamos e apreciamos o crepúsculo e tranquilidade do fim da tarde, no primeiro dia passado nas montanhas. Este dia, tivemos que aprender a montar o nosso acampamento, foi díficil, mas lá conseguimos. Passamos a noite em tendas e sem problema nenhum. O resto das noites iriam ser assim. No dia seguinte, partindo de Ouaneskra seguiriamos para Imskar (1381m) . Neste percurso viajamos pelos contrafortes do Toubkal e passamos por vários povoados dispersos nas montanhas. Paramos para um almoço nas margens de um rio aonde demos uns mergulhos valentes.

Nestes dias tinhamos de aproveitar todas as águas (limpas) que iamos encontrando, para nos banharmos e também nos refrescarmos dos dias intensos que iamos tendo.

Acampamos junto ao rio. Próxima etapa, Ait Assa (1700m). Atravessamos uma das aldeias que encontramos pelo caminho e só sei que subimos muito através de uma encosta bastante íngreme. Apesar destas dificuldades encontramos no topo dessa encosta um verdadeiro local de contemplação da natureza. E depois num olhar avistavamos quase todo o percurso que já tinhamos feito desde o ponto de partida e até aonde já tinhamos caminhado. Quase sem dar por isso já tinhamos atravessado um imenso território de montanhas. Na passagem por uma das aldeias somos convidados a entrar e a tomar, imaginem ... um chá de menta. Eram casas simples com tapetes berberes a forrar o chão de areia e as paredes de pedra a dar frescura à casa. Sentamos todos no chão encostados à parede e no meio dessa sala um tabuleiro com um bule de chá de menta quente. Foi uma visita simples e agradável, típico dos costumes berberes.

Por esta altura os companheiros de viagem estavam todos felizes desta aventura, sendo que o casal Pedro e Teresa aguentavam-se bem, e as duas senhoras já apresentavam algumas queixas dos gémeos. Falta de preparação.

Neste dia passamos os colos Tizi el Bour (1700m) e Tizi n'Tacht (2000m) e picnicamos num vale, junto a mais um rio. Tomamos banhos entre cascatas e correntes fortes (que belas massagens que aquelas águas nos proporcionaram) e pernoitamos por lá. Esta noite foi o nosso primeiro contacto com os mosquitos, e embora tenha o sangue saboroso ;), não me chatearam muito. Eventualmente consegui estabelecer algum compromisso com elas para não me sugarem todo, ... salvo.
Dia 5, de Ait Assa a Imlil (1900m). Por um bonito carreiro pela floresta de zimbro e nogueira, em marcha suave até ao colo Tizi Mzik (2489m), depois descida por Azib Mzikene com paragem para pic nic junto à nascente. Num destes dias e depois de passarmos um dos cumes, mesmo no meio das montanhas, demos de caras com um tipo, isolado, com uma mochila, a vender Coca-Colas ... surreal. Parecia um personagem daquele filme, os Deuses Devem Estar Loucos, autêntico.
A partir daqui chegamos rápido a Imlil, aldeia cosmopolita no vale. Pernoita em albergue. Aqui o albergue era uma casa de dois pisos que servia para os viajantes que por lá passavam poderem pernoitar. Era o nosso caso. Tivemos um feliz contacto com casas de banho com portas e sem elementos da natureza e outros animais a rodearem-nos, o que apreciamos imenso. Serviu esta estadia neste albergue para a Teresa aplicar os seus conhecimentos de massagista a todos os elementos do grupo. Coitadas das "donzelas" que iam connosco, já tavam mesmo a dar as últimas.
De Imlil seguimos e subimos em direcção ao Refúgio Neltner (3106m) que serviria de acomodação antes da grande subida ao Toubkal. Por caminho passamos por um desfiladeiro conhecido como marabout de Sidi Chamharouch, o Rei do Diabo, que basicamente era uma pintura branca num rochedo de uma figura qualquer. Acreditavam que a crença nessa figura serviria para curar males do espírito e outras doenças mentais.

Aqui tive um pequeno problemazito. É normal nestes países, que o negócio se faça à base de grandes negociatas e discussões sobre os preços. Havia lá uns toldos que tinham várias peças à venda, desde pequenas bujigangas até tapetes ou outros objectos de metal característicos de Marrocos. Dei-me por mim a olhar, sem interesse em comprar qualquer coisa, até porque estava em viagem e não pretendia arranjar mais peso para me acompanhar. Até que nem sei como aconteceu o dono de uma das barracas começou a negociar comigo uma coisa qualquer. Passei uns bons 20 minutos com ele a ouvir os valores que ele mandava para o alto e acabei por lhe dar trela. Mesmo sem querer podia ter feito o negócio, e que até tinha ficado bem em conta. Acontece que optei por não comprar nada e o tipo ficou fulo da vida, foi como que o diabo tivesse apoderado dele, e na sua lingua nativa começou ao berros e suponho que me a insultar. O que vale é que eu não percebia nada e ia virando as costas à situação. Às tantas o resto dos vendedores que lá estavam começam também a voltar-se contra mim, e eu receando do que me pudesse acontecer, fugi o mais depressa dali sem me aperceber que começavam a vir atrás de mim. Ainda em passo apressado passei pela figura pintada na rocha e alcancei o meu grupo. Felizmente, eles desapareceram nem sei como. Foi um dos momentos de medo que tive nesta viagem por não partilhar (penso eu) da cultura vigente.

Passando esta situação, chegamos rapidamente ao refúgio Neltner.
Ali pernoitamos e preparamos a subida, a ascensão do Toubkal (4167m), para o dia seguinte. As senhoras dicidiram não ir, porque iria ser dificil a ascensão e estavam muito cansadas. Acabamos por ir eu, o Pedro e o guia. A partida seria às 4h da manhã, para podermos chegar ao nascer do sol lá ao topo e também para não apanharmos com mais gente na subida. Nessa altura não havia neve no cume, o que facilitava a subida, e também estava bom clima. Nós iamos subir mais ou menos mil metros mas sempre a pique sem ajudas nenhumas. Apesar do terreno ser bastante irregular e rochoso, era o ideal para a nossa subida.
Partimos à hora prevista e fomos subindo sempre ao mesmo ritmo, com alguma paragens a meio para nos habituarmos à diferença de altitude e ao ar cada vez mais rarefeito. Em três horas conseguimos chegar lá. Fomos os primeiros nesse dia de 19 de Agosto. Incrível foi a vista que tinhamos lá de cima. De um lado via-se quase o Atlântico, de outro o Sahara e de outro o resto da cadeia montanhosa do Atlas. Lá devia estar uns 0º negativos (lembram-se desta??) mas o sol brilhava como nunca.
Entretanto quando começaram a chegar outros viajantes, foi quando resolvemos descer. Bem aqui, na descida foi uma adrenalina total. Foi a correr e saltar (literalmente) montanha abaixo, e depois com a embalagem a velocidade era maior. O pior era quando chegavamos a um precipício e tinhamos de travar ou aplicar outras formas de pararmos porque senão iamos dar umas grandes quedas montanha abaixo. Foi o extâse nesta viagem, a descida do Toubkal.

Lá em baixo encontramos as companheiras de viagem, e contamos as nossas peripécias. Ao fim do dia partimos de volta para Marraquexe.

domingo, outubro 01, 2006

Da Fotografia

Fotografia, é a forma de escrita com a Luz.
Uma arte, como a pintura, como a escultura, como o desenho artístico.

Num Olhar Fotográfico através de um Enquadramento, imagino a Imagem que irá ser criada. Perspectivo a estória que quero contar, adiciono personagens que dão-lhe vida e componho-a em mil horizontes.
Com o argumento criado, construo o Momento num único tempo. Acrescento ou retiro o Tempo de Exposição, dando movimento ao fotograma ou parando-o num milésimo de segundo. Aumento o Obturador para obter mais luminosidade ou fecho-o para dar mais Profundidade de Campo, e assim distancio os Motivos uns dos outros.
Depois, acontece o momento mágico. Um Clic que levanta a Cortina e deixa a Luz cruzar os espelhos e ir de encontro à Película, que Sensível à sua incidência, queima os cristais ali existentes decompondo a luz nos seus Espectros e deixando uma estória escrita num único Fotograma.

Realizo-me, e tranquilizo-me na fotografia. Muitas delas ficaram perdidas no tempo mas serviram para aprender mais sobre esta forma de escrita. A Cores ou a P&B, a imagem encarna as emoções do fotógrafo para o comum dos olhares, e da própria imagem para o fotógrafo.
Odeio, ... abomino fotografias paradas, que não contam estória alguma, que estupidificam personagens ou que contam estórias inexpressivas e sem emoção, e com os motivos destruídos por olhares mirrados.

Na fotografia, mil palavras não descrevem uma imagem, mas uma imagem conta o que mil palavras não descrevem.